sábado, 3 de dezembro de 2011


SÉRIE HISTÓRIA CRISTÃ: BISPO ROBERT McALISTER E A CRUZADA NOVA VIDA

O Bispo Robert McAlister foi definitivamente o nome que marcou a transição nas formas e hábitos da igreja evangélica brasileira na segunda metade do século XX. As massas protestantes do país que, até então, estavam fortemente ligadas a conceitos de usos e costumes, como também, em sua maioria, sofriam forte depreciação por parte da sociedade, não somente pelas suas crenças, mas também por muitos dos crentes serem de uma classe social inferior, especialmente os pentecostais, entre os quais a Assembléia de Deus era maioria, conheceriam no início da década de 60 um novo formato de evangelização, mais atuante, onde o missionário canadense seria um dos pioneiros entre os líderes protestantes que usariam o rádio e a televisão como instrumentos para a sua pregação. Com carisma, inteligência e paixão pelo Evangelho, o Bispo Roberto alcançaria com sua mensagem convertidos em todas as classes sociais da sociedade, fazendo com que finalmente surgisse entre protestantes históricos (muitos dos quais de classe média alta) e os pentecostais (maioria de baixa renda) uma nova visão sobre como levar o Evangelho para todas as pessoas, sem distinção de classes. Assim iniciaria a Cruzada Nova Vida, que historicamente foi a origem de grande parte do movimento neopentecostal brasileiro e, consequentemente, do crescimento vertiginoso desses grupos evangélicos, alguns até sectários, nas últimas décadas. Posteriormente, a visão de McAlister sobre um pentecostalismo mais dinâmico, encontraria guarida também nas crenças de muitos cristãos reformados em todo o país, inclusive em um grupo de Itapajé. Seria o início da Comunidade de Nova Vida, da qual também tratamos nesse texto.

O INÍCIO

Walter Robert McAlister nasceu em 13 de agosto de 1931, em Ontario, Canadá. Vindos de uma família originalmente evangélica e com tradição no reavivamento pentecostal, ele e seus irmãos, Elizabeth e Jack, foram criados na igreja e nunca saíram dela. Mesmo assim, Robert não queria saber de Deus. Era considerado a "ovelha negra" da família, apesar de seus pais nunca terem deixado de orar por ele. Seu pai, Walter E. McAlister, era pastor da Igreja da Pedra (pela característica arquitetônica) em Toronto, Ontario, e superintendente geral das Assembléias Pentecostais do Canadá. Era um homem extremamente humilde. Sua maior característica era nunca falar mal de ninguém. Sua mãe, Ruth, sempre foi dona de casa. Quando Robert se converteu, aos 17 anos, no dia 18 de setembro de 1948, trabalhava como inspetor de seguros de carro. Largou o trabalho para estudar, durante três anos, em uma escola bíblica, a Eastern Pentecostal Bible College, em Peterborough, Ontário.

Já missionário, o primeiro lugar em que pregou foi nas Filipinas. A primeira ministração foi em Formosa, em 1953. Ficou dois anos no país. Na volta, ele passou por Hong Kong e fundou as duas primeiras Igrejas de Nova Vida. Elas existem até hoje mas não são vinculadas ao ministério no Brasil. Em 1955, foi para os EUA fazer uma cruzada e conheceu uma moça de Charlotte, em Carolina do Norte. Os dois casaram pouquíssimo tempo depois, no dia 10 de junho de 1955. Robert seria missionário em Calcutá, na Índia, mas por sua esposa ser americana sua entrada foi proibida. O sonho de ser missionário na Índia havia acabado. Foi convidado para pregar em uma igreja durante um ano em South Bend, Indiana, EUA, depois voltou para Charlotte, para o nascimento do filho Walter. Em 1956, foi ser missionário em Paris, na França; ao retornar para Charlotte, continuou com as missões e pregou algumas vezes na igreja de seus pais. Mas foi quando o pastor Lester Summeral convidou-o para fazer uma campanha evangelística no Brasil, que Deus falou ao seu coração que a sua missão era evangelizar esse país. Assim, esteve pregando no Brasil em 1958 e 1959 a convite das Igrejas Assembléia de Deus e Evangelho Quadrangular.

Acostumado a realizar cruzadas pelo mundo inteiro, o Bispo Roberto foi convidado por Lester Summeral para participar de uma campanha evangelística no Maracanãzinho, Rio de Janeiro, em 1958. Ele só havia estado no Brasil uma única vez, em sua lua-de-mel. Quando a campanha terminasse, ele continuaria a correr o mundo pregando a Palavra de Deus. Foi neste dia que Roberto ouviu uma voz: "Este é o lugar para o qual Eu o chamei para pregar a Minha Palavra". Ao final da campanha, teve que voltar correndo para o Canadá, pois sua filha tinha acabado de nascer. Decidido a cumprir o chamado de Deus, poucos meses depois, em 1959, Robert McAlister veio morar no país acompanhado da esposa, Glória, e de seus filhos, Walter, com dois anos e meio, e Heather Ann, de apenas seis meses. Primeiro foi para São Paulo, mas todas as portas se fecharam. Era a mão de Deus, pois ele estava sendo chamado para o Rio de Janeiro, por isso, foram morar em Santa Teresa e foi assim que tudo começou.

A IGREJA QUE COMEÇOU NO RÁDIO

A Igreja de Nova Vida nasceu de um programa de rádio, a “VOZ DA NOVA VIDA”, que foi transmitida pela primeira vez no dia 1º de agosto de 1960, às 6h30, através da Rádio Copacabana: "É tempo de ouvir uma mensagem de Nova Vida". Foi assim que começou a primeira transmissão do início da Igreja Nova Vida. Através deste programa, o missionário Roberto fundou a pioneira de muitas igrejas evangélicas renovadas no Brasil: a Cruzada de Nova Vida. O Bispo Roberto McAlister fez um curso intensivo da língua portuguesa (oito horas por dia em um período de três meses), para poder fazer a locução do programa de 15 minutos. Tudo tinha que ser escrito, até a oração. "Tudo era lido, mas com unção, como se estivesse sendo só falado", diz o Pr. Walmir Cohen, que trabalhou com o bispo nos programas de rádio por vários anos. A gravação dos primeiros programas foi realizada na casa do Bispo Roberto, tendo como estúdio um quarto com cobertores pendurados nas janelas, para abafar os ruídos dos carros. O grande impacto causado pelas mensagens de salvação do bispo levou-o a fazer dois programas diários, um às 06h30 e outro às 18h30. Em 1963, ele sentiu a necessidade de alcançar todo o Brasil com as Boas Novas. Com isso, transferiu o programa para a Rádio Mayrink Veiga, às 08h10. A Rádio Guanabara também veiculou o programa até que fosse transferido para a Rádio Relógio, comprada pela igreja em 1967. A partir daí, a Igreja de Nova Vida começou a produzir mais programas, como o Café Espiritual. Frases que lhe caracterizavam começaram a ser repetidas pelo povo, como "Que Deus o abençoe rica e abundantemente" e "É chegada a hora da oração". A audiência foi crescendo e no primeiro ano de programa recebera doze mil cartas. Enfatizando a cura das enfermidades nas transmissões, o Pastor Roberto sentiu necessidade de passar aos ouvintes a base bíblica de suas declarações. Naquele momento surgia o seu primeiro livro, "Perguntas e Respostas sobre a Cura Divina", que era dado a quem escrevia para o programa. O livro esgotou-se no primeiro mês.

DA RÁDIO PARA O TEMPLO

Milhares de pessoas falavam sobre as pregações e suas vidas transformadas pela Palavra de Deus nos programas de rádio. Muitas pessoas procuravam a rádio para buscar orientação espiritual, até que ele alugou um escritório no Edifício Central, na Avenida Rio Branco, centro do Rio. Mas o fluxo de pessoas era tão grande que não dava mais para ficar só na rádio e em escritórios. Um desejo começou a invadir o coração do missionário canadense: reunir todos os ouvintes num lugar para falar de Jesus. O poder de Deus no programa de rádio era tamanho que houve a necessidade de terem um local para reuniões. Foi às 14h30 no 9o andar do edifício da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), na rua Araújo Porto Alegre 71, Rio de Janeiro, no dia 13 de maio de 1961, que se iniciou o primeiro culto da Cruzada de Nova Vida em local fixo. O auditório estava lotado. O culto se seguiu com louvor, oferta e mensagem, além das orações e testemunhos. O convite para seguir a Jesus Cristo foi aceito por centenas de pessoas, que ficaram de pé, anunciando o desejo de segui-Lo. Domingo após domingo Deus manifestava o Seu poder. Os novos convertidos eram aconselhados a congregarem em uma igreja próxima de suas casas, porém o número de membros foi crescendo tanto que houve a necessidade de se criar mais um culto. Além disso, o crescimento espiritual "pedia" mais busca do Espírito Santo.

 
                                                                                                                    
NOVA VIDA EM ITAPAJÉ

A história da Comunidade Nova Vida em Itapajé confunde-se com a própria biografia do seu casal de líderes, o Pastor Presidente Denis Frota e a sua esposa, a Pastora Fátima Rios. Benedito Denis Frota Gomes e Fatima Maria Rios Gomes, jovem casal sobralense, que eram recém casados e membros da Igreja Presbiteriana, vieram morar em Itapajé ainda na década de 80, por questão profissional, e logo iniciaram um grupo de estudos bíblicos em sua residência.

Possuíam fortes laços de fraternidade com um pastor norte americano, Robert Allen Clark, natural da cidade de Clarlotte, Carolina do Norte, que anos antes se estabeleceu na cidade de Sobral, com o qual o casal, que na época ainda eram namorados, tiveram acesso a um amplo estudo sobre o Evangelho.

Em 1982 veio a Sobral um outro pastor presbiteriano, natural de Manaus e que morava no Rio de Janeiro, pastor Adelson Tavares Ferreira. Muito novo e trabalhador, não ficava parado um só momento. Mexeu com a cidade toda, deu muitas palestras sobre namoro para jovens, nas escolas, palestras sobre drogas e foi conquistando muitos jovens para a igrejinha, de cognome "caixinha de fósforo". Essas duas figuras foram marcantes para a formação da fé reformada e presbiteriana do jovem casal.

Denis Frota, que trabalhava na Polícia Civil em Sobral, passou em um concurso público do extinto Banco do Estado do Ceará (BEC), sendo lotado no município de Itapajé. A princípio, já instalados na terra da Pedra do Frade, Denis e Fátima chegaram a visitar outros grupos evangélicos, especialmente a Igreja de Deus, de linha pentecostal. Entretanto, como bons presbiterianos, sempre deram especial atenção ao estudo bíblico e, motivados pelo entusiasmo do pastor Adelson Ferreira, iniciaram um trabalho presbiteriano em Itapajé.

PRESBITERIANOS RENOVADOS

A igreja foi ao poucos sendo estabelecida. Já naquela altura e de uma forma natural, os membros da pequena igreja, incluindo seus dirigentes, o presbítero Denis e sua esposa Fatima, passaram a crer em aspectos da doutrina pentecostal, especialmente a contemporaneidade do Batismo no Espírito Santo e os dons espirituais. Parte da liderança presbiteriana em Sobral agiu com certa discordância em relação à questão teológica, fazendo com que o presbítero Denis entregasse espontaneamente aos presbiterianos a função que exercia no pequeno grupo de ovelhas locais.

Junto com Denis e Fátima, o grupo de dezesseis irmãos que também criam na visão pentecostal se desligaram do presbiterianismo e foram novamente motivados pelo pastor Adelson Ferreira, que agora era ligado à Igreja de Nova Vida no Rio de Janeiro, a continuarem adorando e conhecendo a Deus juntos. O pouco material que o pequeno grupo adquiriu com esforço e por conta própria, como equipamentos de som, móveis e cadeiras foi entregue à liderança presbiteriana. Os então “presbiterianos renovados” formariam assim a Comunidade de Nova Vida, que por intermédio do pastor Adelson Ferreira fora irmanada às demais Igrejas de Nova Vida e iniciaria oficialmente suas atividades no município de Itapajé em 05 de abril de 1989.

O culto inaugural, a benção ministerial e a oficialização dos trabalhos ocorreu em um pequeno prédio em frente à Praça do Povão, com a presença dos pastores da Igreja de Nova Vida do Ministério do Maracanã, do Rio de Janeiro, Mauro Rogério Paixão e o próprio Adelson Tavares Ferreira.
                                                                                                                      
Com o falecimento do Bispo Primaz da Igreja de Nova Vida, o bispo Roberto McAlister, em 1993, no Rio de Janeiro, e com o consenso na direção da Igreja de Nova Vida de que as congregações poderiam ter autonomia, ainda que pudessem permanecer irmanadas, a pequena Comunidade de Nova Vida, em Itapajé, que representava as Igrejas de Nova Vida no Ceará e no Nordeste brasileiro, obteve permissão para, em dezembro de 1994, tornar-se um ministério independente, denominado Comunidade de Nova Vida Ministério El Shadai, nome com o qual permanece até hoje.









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